sábado, 8 de janeiro de 2011

Marcela e Thereza

Entendo que não se fale de outra coisa na internet. Marcela Temer é de fato a musa do verão. Só não concordo quando dizem que nunca houve na história uma segunda-dama tão bonita quanto ela. Na verdade, houve sim, talvez mais bela até e sem dúvida mais jovem.
Ela se chamava Maria Thereza Goulart, foi esposa de Jango quando ele era vice de JK (de 1956 a 1961), e primeira-dama quando ele, vice de novo, acabou ocupando a presidência com a renúncia de Jânio Quadros (de 61 a 64). Na época, elegia-se o vice independentemente. Assim, ela foi segunda-dama aos 17 anos e primeira aos 21.
Entre as afinidades, estão a discrição de uma e de outra, e a preferência amorosa por políticos mais maduros. A distância etária entre Thereza e Jango era de 22 anos. Quando começaram a namorar, ela tinha 17 e ele, 39. Já Michel tinha 63 e ela, 20, quando iniciaram o seu romance. Quarenta e três anos os separam, se é que se pode falar assim.
O impacto que a aparição das duas provocou no grande público também foi parecido. Só que Marcela apresentou-se ao país na cerimônia de posse do marido, o vice Michel Temer, ou seja, no começo da festa. Já Maria Thereza surgiu no último comício que o marido fez, no dia 13 de março de 1964, isto é, no fim da festa, quase no começo da tragédia. Dezoito dias depois do chamado Comício das Reformas, João Goulart era deposto por um golpe militar.
Não é que Thereza tivesse ficado escondida o tempo todo em que esteve no poder. Mas foi naquele palanque em frente à Central e diante de 150 mil pessoas que se fixou no imaginário do país como emblema aquele perfil de escultura grega — o nariz retilíneo e o pescoço longo de Modigliani.
Leonel Brizola botando pra quebrar e metendo medo nas classes conservadoras; Jango anunciando que decretara a estatização das refinarias de petróleo e que encaminharia ao Congresso as “reformas de base” (agrária, eleitoral, tributária, educacional), começando pela desapropriação de terras às margens de ferrovias e rodovias federais; o país ameaçando pegar fogo e Maria Thereza serena, imperturbável, sem mover um músculo — linda. E o coque?
Recentemente, aos 70 anos, ela recordou como se sentia lisonjeada com as imitações de seu estilo de pentear-se: “Aquele coque, então!”, lembrava. Modelo para as moças, o coque era fetiche para os rapazes. “O Brasil vivia um momento de mudanças na moda, cinema, música e eu procurava estar à altura de meu marido, que tentava mudar o país”.
O país de Marcela continua precisando das reformas propostas pelo país de Maria Thereza. Só não precisa do radicalismo.

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